RIO - São 10,197 milhões famílias em que só há mãe ou pai. Uma delas é
a de Jorge Ricardo, Pedro Ricardo e Brenno. Essa família tem poucos
similares no Brasil, mas isso vem mudando. Formada por um pai sozinho e
dois filhos ainda por terminar de criar, é encontrável em apenas 2,3%
dos lares. Jorge Ricardo Gonçalves, professor de Sociologia da UFRJ,
cria os filhos sozinho há seis anos. Pedro tinha na época 6 anos e
Breno, 1. A mãe, que vive em Teresópolis, visita os filhos, mas a
distância torna mais difícil o convívio.
— Quando nos separamos,
eu já cuidava mais das crianças mesmo. Tinha mais condições financeiras e
eles ficaram comigo. O melhor disso tudo? É ser a principal pessoa da
vida deles. E ter o papel da mãe, o centro — diz o pai, que tem outros
dois filhos do primeiro casamento: Lara, 20 anos, e Lúcio, de 21, que
vivem com a mãe.
Algumas coisas se repetem seja qual for o modelo de família. Os
momentos que antecedem o horário escolar são os mais corridos. Mochila,
banho, almoço, hora da van. Lá não é diferente. Jorge fala que procura
estar presente nas refeições. Alguns projetos ficaram pelo caminho com
essa escolha. O fim do doutorado e as viagens para congressos e
palestras. Agora o estudo maior é com Pedro Ricardo, no sétimo ano.
Pedro é enteado de Jorge. Ele assumiu a paternidade do menino quando ele estava com um ano:
—
Algumas vezes, ele falava: “você não é meu pai”. Eu respondia que ele é
exclusivo. Foi o único escolhido. Estou por que amo — lembra Jorge.
preconceito ainda existe
Enquanto
as famílias de pais sozinhos são poucas, as de mães sozinhas
correspondem a 15,5% dos lares. O crescimento dos divórcios (a proporção
de pessoas separadas passou de 1,7% em 2000 para 3,1% em 2010) e a
independência feminina justificam isso.
— A mulher assumiu o
controle de seu destino. Controle da sexualidade e da maternidade, com a
reprodução assistida — afirma Ana Amélia Camarano, demógrafa do
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
A vida de Ana
Paula Monteiro mudou completamente há um ano, quando Bárbara entrou em
sua vida. A advogada de 43 anos, moradora de Paracambi e mãe solteira,
não consegue disfarçar a emoção quando fala da chegada de sua filha
adotiva:
— Sua vida vira de cabeça para baixo, os gastos crescem,
tive até que mudar de um apartamento para uma casa. Mas posso falar com
certeza: nunca fui tão feliz na minha vida. Sempre imaginei que ser mãe
seria muito bom, mas minhas expectativas foram superadas.
Ana
Paula sempre sonhou em ser mãe, mas seu namorado, que é pai em um
relacionamento anterior, não queria mais filhos. Ela, então, partiu para
sua luta solitária, que avançou apesar das dificuldades no caminho.
Hoje ela sente que realmente tem uma família, e seu namorado, a quem
Bárbara chama de tio, mora em outra casa. Ela ainda enfrenta preconceito
como mãe solteira adotiva, diz:
— Encontrei grupos de adoção que me ajudaram, são pessoas que compartilham experiências valiosas.
Para Ana Paula, nada é melhor do que ouvir a Bárbara dizer mamãe.
—
Quando me avisaram que havia uma criança para adoção e que era a minha
vez na fila, não aguentei. Ela estava em uma instituição de caridade e a
irmã se surpreendeu quando disse que a aceitaria como filha, antes de
saber de que cor era ou do problema que ela tinha de saúde, graças a
Deus já resolvido. A irmã disse que nunca tinha visto isso, os pais
adotivos sempre querem saber das características do bebê. Eu, não. A
Bárbara seria minha filha mesma se fosse azul — conta, emocionada.
Uma nova rotina familiar
Há
sete anos, a rotina do cirurgião plástico Allan Bernacchi, de 38 anos,
mudou. Foi quando o filho Alexandre, hoje com 11 anos, passou a morar
com ele, criando uma nova vida familiar.
Ele conta com uma
auxiliar e a mãe sempre visita o filho. Mas, em julho, Allan deu férias
para a secretária e curtiu dias a sós com o filho. Foram ao cinema e
jogaram muito videogame. Alexandre sabe que morar com o pai é diferente
do que vive a maior parte dos colegas:
— Mas tudo é ótimo. Sempre vejo minha mãe.
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