agosto 28, 2012

Monoparentalidade - estatísticas demonstram o aumento dessa organização de família no Brasil

RIO - São 10,197 milhões famílias em que só há mãe ou pai. Uma delas é a de Jorge Ricardo, Pedro Ricardo e Brenno. Essa família tem poucos similares no Brasil, mas isso vem mudando. Formada por um pai sozinho e dois filhos ainda por terminar de criar, é encontrável em apenas 2,3% dos lares. Jorge Ricardo Gonçalves, professor de Sociologia da UFRJ, cria os filhos sozinho há seis anos. Pedro tinha na época 6 anos e Breno, 1. A mãe, que vive em Teresópolis, visita os filhos, mas a distância torna mais difícil o convívio.
— Quando nos separamos, eu já cuidava mais das crianças mesmo. Tinha mais condições financeiras e eles ficaram comigo. O melhor disso tudo? É ser a principal pessoa da vida deles. E ter o papel da mãe, o centro — diz o pai, que tem outros dois filhos do primeiro casamento: Lara, 20 anos, e Lúcio, de 21, que vivem com a mãe.

Algumas coisas se repetem seja qual for o modelo de família. Os momentos que antecedem o horário escolar são os mais corridos. Mochila, banho, almoço, hora da van. Lá não é diferente. Jorge fala que procura estar presente nas refeições. Alguns projetos ficaram pelo caminho com essa escolha. O fim do doutorado e as viagens para congressos e palestras. Agora o estudo maior é com Pedro Ricardo, no sétimo ano.
Pedro é enteado de Jorge. Ele assumiu a paternidade do menino quando ele estava com um ano:
— Algumas vezes, ele falava: “você não é meu pai”. Eu respondia que ele é exclusivo. Foi o único escolhido. Estou por que amo — lembra Jorge.
preconceito ainda existe
Enquanto as famílias de pais sozinhos são poucas, as de mães sozinhas correspondem a 15,5% dos lares. O crescimento dos divórcios (a proporção de pessoas separadas passou de 1,7% em 2000 para 3,1% em 2010) e a independência feminina justificam isso.
— A mulher assumiu o controle de seu destino. Controle da sexualidade e da maternidade, com a reprodução assistida — afirma Ana Amélia Camarano, demógrafa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
A vida de Ana Paula Monteiro mudou completamente há um ano, quando Bárbara entrou em sua vida. A advogada de 43 anos, moradora de Paracambi e mãe solteira, não consegue disfarçar a emoção quando fala da chegada de sua filha adotiva:
— Sua vida vira de cabeça para baixo, os gastos crescem, tive até que mudar de um apartamento para uma casa. Mas posso falar com certeza: nunca fui tão feliz na minha vida. Sempre imaginei que ser mãe seria muito bom, mas minhas expectativas foram superadas.
Ana Paula sempre sonhou em ser mãe, mas seu namorado, que é pai em um relacionamento anterior, não queria mais filhos. Ela, então, partiu para sua luta solitária, que avançou apesar das dificuldades no caminho. Hoje ela sente que realmente tem uma família, e seu namorado, a quem Bárbara chama de tio, mora em outra casa. Ela ainda enfrenta preconceito como mãe solteira adotiva, diz:
— Encontrei grupos de adoção que me ajudaram, são pessoas que compartilham experiências valiosas.
Para Ana Paula, nada é melhor do que ouvir a Bárbara dizer mamãe.
— Quando me avisaram que havia uma criança para adoção e que era a minha vez na fila, não aguentei. Ela estava em uma instituição de caridade e a irmã se surpreendeu quando disse que a aceitaria como filha, antes de saber de que cor era ou do problema que ela tinha de saúde, graças a Deus já resolvido. A irmã disse que nunca tinha visto isso, os pais adotivos sempre querem saber das características do bebê. Eu, não. A Bárbara seria minha filha mesma se fosse azul — conta, emocionada.
Uma nova rotina familiar
Há sete anos, a rotina do cirurgião plástico Allan Bernacchi, de 38 anos, mudou. Foi quando o filho Alexandre, hoje com 11 anos, passou a morar com ele, criando uma nova vida familiar.
Ele conta com uma auxiliar e a mãe sempre visita o filho. Mas, em julho, Allan deu férias para a secretária e curtiu dias a sós com o filho. Foram ao cinema e jogaram muito videogame. Alexandre sabe que morar com o pai é diferente do que vive a maior parte dos colegas:
— Mas tudo é ótimo. Sempre vejo minha mãe.

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