SUPLICY Marta . Brasil, olha a tua cara . Disponível em: http://www.ibdfam.org.br/novosite/artigos/detalhe/843. Acesso em04/09/2012
setembro 04, 2012
Artigo: "Brasil, olha a tua cara", Por Marta Suplicy
Coluna publicada na Folha de S. Paulo do dia 1/9/2012:
Ouço, com espanto, Ana Maria Braga
falar que "não importa se a pessoa é solteira, católica, evangélica"
numa confusão de situações -casos não muito diferentes dos encontrados
na primorosa série de reportagens de "O Globo" sobre o último Censo do
IBGE (2010).
Para a população brasileira hoje, as
informações e os arranjos familiares são tão diversos que, como dizia um
amigo meu, "não há o que não haja". Um homem pode estar casado com
outro homem, a mulher solteira pode ser casada há anos e o casal
recém-casadinho pode ter vários filhos.
As mulheres já assumem a responsabilidade por 38,7% dos lares (há dez anos, a chefia feminina era em 24,9%).
E o interessante é que elas se colocam
como chefes de família não só quando não existe um cônjuge, mas quando
ele existe e ela ganha mais ou conduz o negócio familiar. Isso é novo e
merece mais atenção.
A diversidade é tal que podemos dizer
que o Censo 2010 captou uma gigantesca mudança, que é a ponta de um
iceberg de novos arranjos familiares ainda não estudados.
O IBGE não mede casados em casas
separadas e filhos que moram, em guarda compartilhada, em duas
residências. No entanto já sabemos a existência de 60 mil casais gays
formados, em sua maioria, por mulheres (53,8%).
Temos também o surpreendente número de
netos morando com avós e a família chamada "mosaico" (a do meu, do seu e
dos nossos filhos). Assim como amigos que moram juntos sem laços de
parentesco (400 mil) e os "Dinks", sigla em inglês referente à dupla
renda e nenhum filho, que somam dois milhões de casais.
Menos filhos, mais independência e
renda feminina foram fatores decisivos para essas modalidades que
prenunciam um século diferente.
O caldo cultural acumulado na segunda
metade do século 20, que permitiu a separação sem marginalização social,
a pílula anticoncepcional, o divórcio e o maior acesso ao estudo (na
TV, a novela "Gabriela", baseada no livro de Jorge Amado, nos lembra
direitinho como era a condição da mulher e sua posição na família), foi
motor para o que hoje acontece. E ainda não temos a dimensão da
influência da globalização e da internet.
Falou-se que a família ia acabar, tal
como os conservadores disseram quando a mulher conquistou o direito ao
voto. Entretanto a família se adapta. Ela se renova, mas os laços
afetivos continuam preponderantes.
Concluindo, a pesquisa indica que a
família tradicional já não é mais maioria no Brasil. Ela corresponde a
49,9%. E agora Congresso? Não dá mais para ignorar o mundo dinâmico no
qual vivemos nem permitir que setores conservadores inviabilizem a
votação de leis que incorporem o que a sociedade já vive plenamente.
*Marta Suplicy é senadora pelo PT-SP, ex-prefeita de São Paulo e ex-deputada federal. Foi ministra do Turismo no governo Lula.
SUPLICY Marta . Brasil, olha a tua cara . Disponível em: http://www.ibdfam.org.br/novosite/artigos/detalhe/843. Acesso em04/09/2012
AUTHOR:
Dimitre Soares
Nenhum comentário:
Postar um comentário