março 14, 2010

Uma outra Cuba - Prof. Fábio Freitas

Caros amigos, tomo a liberdae de reproduzir este texto do Prof. Fabio Freitas publicado na sua coluna do www.paraibaonline.com.br.
Eis o endereço onde se pode, inclusive, enviar comentários para o autor:
http://www.paraibaonline.com.br/coluna.php?id=29


Uma Outra Cuba
Fábio Freitas

Daqui a alguns anos, depois que a gerontocracia comunista cubana tiver se dissolvido no mesmo saco de poeira e maldade onde estão Leonid Brejnev, Nicolau Ceausescu, Erich Honecker, János Kádár, Robert Mungabe, Enver Hoxha, e muitos outros; daqui a alguns anos, quando o povo cubano tiver conquistado o direito de divergir dos seus governantes, de eleger novas lideranças, de acessar livremente a Internet e de escolher os livros que deseja ler; daqui a alguns anos, quando as crianças cubanas não tiverem mais a obrigação de jurar “por Chê” e quando os cidadãos da ilha não precisarem da autorização do Estado para sair do paraíso; daqui a alguns anos, quando o mar azul que envolve a ilha for apenas o mar e não a imensidão plena de ameaças aguardando os balseiros e quando tudo não for mais aprovado pela unanimidade seguida de aplausos efusivos; daqui a alguns anos, quando não houver mais presos de consciência e quando os membros das “Brigadas de Resposta Rápida” não estiverem mais nas ruas, reprimindo qualquer manifestação de discórdia em nome de uma “Revolução” que só existe no discurso da burocracia corrupta a que servem, então a memória de Orlando Zapata Tamayo será reverenciada e o povo cubano poderá homenagear sua coragem e altivez.

Para a ditadura castrista, os presos políticos são “mercenários” a serviço dos EUA. Por isso, Raul Castro pode dizer, sem corar, que a morte de Orlando é “culpa dos americanos”. A lógica é imbatível: quem diverge ajuda o inimigo; logo, está a serviço do inimigo; logo, faz isso por dinheiro; logo, é um traidor e deve ser preso ou morto. Se morrer, a culpa é do inimigo. Fazer greve de fome em um presídio é sempre arriscado, muito mais em um país onde não há jornalismo. Isto significa que o protesto não será noticiado e que as chances dele pressionar o governo são mínimas. Mesmo assim, no completo anonimato de sua coragem, um negro de 42 anos chamado Orlando Zapata Tamayo permaneceu 85 dias sem comer em protesto contra as prisões cubanas. Quando lhe foi oferecida atenção médica, a situação já era irreversível.

O presidente Lula, em visita a Cuba, apenas “lamentou” o episódio. Com a autoridade e o prestígio que possui e com o peso do Brasil no cenário internacional, Lula poderia exercer papel decisivo para a libertação dos presos políticos cubanos. Poderia, se julgasse importante, se reunir com dissidentes e sinalizar que os investimentos brasileiros na ilha seriam mais amplos diante de uma agenda de reformas políticas e econômicas.

Tudo indica que nem ele nem o PT estão dispostos a isto. Pena. Daqui a alguns anos, quando a injustiça, os privilégios, a incompetência, a corrupção, a violência, a censura, a perseguição e o medo tiverem se ido e quando o povo cubano puder reconstruir sua história, haverá muitas fotos de Lula e de muitos outros petistas com Fidel. Elas simbolizarão nosso silêncio e nossa vergonha.

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