maio 22, 2014
"Ser Juiz de Família", por Maria Aglaé Tedesco
Amigos, segue belo texto de uma experiente juíza de Vara de Família. Trata-se de uma visão bastante sensível da experiência de lidar com esse tão belo ramo do Direito.
Aos novos juízes do TJRJ - 2014
Ser Juiz de Família é saber
que toda família, inclusive a sua, está sujeita a chuvas e trovoadas.
Ser Juiz de Família é parecer
que adora uma fofoca sobre a vida dos outros e perguntar na ação de alimentos
porque a separação aconteceu.
Ser Juiz de Família é
olhar dentro dos olhos do requerente para depois dizer que não pode dar o
direito da forma que está sendo pedido e perceber a decepção.
Ser Juiz de Família é
olhar dentro dos olhos do requerente para depois dizer que pode dar o direito
como está sendo pedido e perceber o alívio que é sentido.
Ser Juiz de Família é
perguntar se tem acordo e ouvir um não imediatamente como resposta.
Ser Juiz de Família é
deixar as partes falarem, falarem, falarem e contarem a sua história e ainda
dizerem algumas verdades, um para o outro e depois ver as partes fazendo um acordo.
Ser Juiz de Família é
ter certeza de que o autor tem razão até que o réu fale para que se passe a ter
certeza que a razão está com o réu.
Ser Juiz de Família é
ver as mãos, daquele homem gigante que entra na sala de audiências, tremerem
como criança.
Ser Juiz de Família é
ver uma mulher pequena entrar na sala de audiências e ficar do tamanho do homem
gigante para defender os direitos do seu filho.
Ser Juiz de Família é
ver o autor trazer uma pasta cheia de papéis e documentos e explicar que tem
direito e provar que tem direito e convencer o juiz a reconhecer seu direito.
Ser Juiz de Família é
ouvir o advogado e ficar convencido do que está dizendo e na hora de dar a
sentença ver que a prova diz exatamente o contrário, mas o advogado falou tão
bem que dá até pena de não conceder o pedido dele.
Ser Juiz de Família é
ouvir o autor com 80 anos te chamar de moça.
Ser Juiz de Família é
ouvir o menino de 10 anos te chamar de senhora.
Ser Juiz de Família é
ficar irritado de tanto ouvir testemunhas.
Ser Juiz de Família é
ficar feliz de ouvir uma testemunha que esclarece todas as suas dúvidas.
Ser Juiz de Família é
aprender a não falar alto com ninguém.
Ser
Juiz de Família é perguntar se os sorrisos entre autora e réu
significam que estão voltando a viver juntos.
Ser Juiz de Família é
ouvir a mesma frase dos pais todos os dias “se eu pudesse eu pagava muito mais
de pensão alimentícia para meu filho”.
Ser Juiz de Família é
ouvir que “eu posso até ser o pai, mas quero o exame de DNA”.
Ser Juiz de Família é na
ação de execução de alimentos ouvir “eu
sempre paguei a pensão em dia” quando a dívida tem mais de cinco números.
Ser Juiz de Família é
ouvir “eu sempre deixei ele ver meu filho”.
Ser Juiz de Família é
ouvir “ela nunca me deixou ver meu filho”.
Ser Juiz de Família é
perguntar quem fica com a máquina de lavar roupas.
Ser Juiz de Família é
perguntar se tem como a mulher morar no primeiro andar com os filhos e o marido
no segundo andar e ouvir que dá para fazer uma escada pelo lado de fora.
Ser Juiz de Família é
fazer as contas das despesas dos filhos e o pai lembrar que a escolinha de futebol
é paga por fora.
Ser Juiz de Família é
decretar a prisão do pai que não pagou a pensão alimentícia e a mãe pedir para
o juiz soltar porque ele não tem condições de pagar.
Ser Juiz de Família é
sentir, a cada história de família, a mesma emoção que sentia quando ouviu as
primeiras histórias há vinte anos atrás.
Ser Juiz de Família é
ter vontade de abraçar a parte e dizer que tudo vai passar.
Em homenagem aos meus vinte anos como juíza de Vara de Família
Fonte: http://direitosdasfamilias.blogspot.com.br/
AUTHOR:
Dimitre Soares
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