janeiro 19, 2010

Meu amigo "Che"

Voltando ao mundo real, depois de alguns bons dias de férias....

Como trabalho o ano inteiro, é no mês de férias em janeiro que aproveito para colocar em dia um monte de atividades pendentes, livros que vão ficando empilhados ao longo dos meses eu vou lendo um a um... CDs, DVDs, cinema, etc... Vou tentar passar aqui um pouco do que tenho lido/assistido nos últimos dias...

Bom, começo pelo livro “Dossiê Che Guevara”, do escritor mineiro Rodolfo Lorenzato. Bem, comprei este livro pela simples razão de ser um aficcionado na figura de Che Guevara. Esse talvez seja o quarto livro sobre o guerrilheiro argentino que leio nos últimos dois anos. Trata-se, na verdade, de um apanhado do que há de mais importante na biografia de Guevara, compilado de algumas obras fundamentais sobre o revolucionário. Eu havia lido há pouco tempo “Meu amigo Che” de Ricardo Rojo (1968), e muitas passagens me pareceram familiares ao livro do argentino na obra do mineiro. De toda sorte, é um livro curto e serve muito bem ao objetivo de apresentar “Che” para aqueles que ainda não conhecem sua história.

O fenômeno “Che Guevara” me faz lembrar bastante de um mito muito regional aqui do interior do nordeste: os cangaceiros. Existem sérias opiniões que tratam os cangaceiros como heróis locais, enquanto outras, igualmente sérias, os tratam como facínoras. Da mesma forma se depreende das leituras sobre “Che”. Alguns lhe tratam como sanguinário e assassino frio. Outros, como líder nato, inspirador de gerações e figura história emblemática pelas lutas contra o sistema de exclusão capitalista. Eu prefiro descaradamente a segunda opção.

Quando estive em Buenos Aires, lembro-me de ter visto na periferia da cidade lindos painéis com sua estampa e frases suas pelas ruas, além de uma espécie de idolatria pela sua famosíssima foto (acima) tirada por Alberto Korda (por sinal, uma das imagens mais reproduzidas do mundo). As bandeiras das torcidas organizadas do Boca tem estampada a sua imagem, assim como camisas, carros, bonés, etc...

O que se pode afirmar, sem sombra de dúvidas, é que o fato de ter morrido precocemente (aos 39 anos) lhe poupou a decadência histórica de líderes comunistas. Lênin, Stálin e Fidel Castro se tornaram obsoletos, ridículos e ganharam a história mais como opressores e tiranos. “Che”, ao contrário, ficou marcado para sempre como o revolucionário romântico. Uma das suas frases mais famosas: “Hasta La Victoria Siempre” revela o espírito de determinação que impulsiona pessoas em todas as partes do mundo para atingirem seus mais importantes ou comezinhos ideais.

Fatalmente o comunismo sucumbiu no final dos anos 80, demonstrando a fragilidade de seus ideais. Cuba se transformou num “fim de mundo” impossível de se viver com dignidade. A argentina restaurou os ideais políticos peronistas (quem diria??), e a fagulha socialista na America Latina reapareceu da pior maneira possível, através de dois celerados malfeitores chamados Hugo Chavez e Rafael Correia.

Parece-me, entretanto, que as lições de “Che” continuam pairando no ar, agora muito menos políticas ou revolucionárias, mas principalmente, como ideais românticos de luta contra a realidade posta.


P.S. Para quem ainda não viu, deve assistir "Che", filme em duas partes, com Benício del Toro e Rogrigo Santoro - 2008/2009.

2 comentários:

  1. Caro Dimitre,
    Muitas vezes é bem mais confortável "viver" o romantismo dos ideais de Che do que encarar a nossa realidade nua e crua, carente de quaisquer ideais.
    Pelo menos durante as férias, fiquemos com o romantismo!

    Um forte abraço e parabéns pelo texto!
    Agora sou seguidor do seu blog.

    Adisson

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  2. Che!? Retornou em grande estilo professor!

    Aproveitando sua comparação entre o mito do guerrilheiro e o épico popular nordestino, gostaria de indicar aos seguidores o livro "Os homens que mataram o facínora: a história dos grandes inimigos de Lampião", fruto de dez anos de pesquisas do jornalista Moacir Assunção. A obra mistura oralidade com fatos históricos, tem uma linguagem clara e direta e pretende ir além da visão positivista dominante acerca do tema.

    Para aqueles que quiserem se aventurar nesse finalzinho de férias, boa pedida!

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